Este planeta...


Quanto à desigualdade impensável entre os pobres e os ricos, neste planeta, quanto à fome paradoxal que nos dizima no meio de tanta abundância, quanto à gula desmesurada dos gordos e à confusão dos inconscientes que comem serpentinas como se fossem spaghetti, quanto aos consumidores que trocam a sua alegria por todo o tipo de futilidades que lhes são impingidas por insidiosas propangandas ou hábeis operações de marketing, quanto à ambição desmesurada e imparável dos ricos e à multiplicação tendencialmente infinita dos capitais, você, meu caro leitor extraterrestre, você porventura me dirá, depois de aprender português: 

«Está a exagerar. Você não ponderou todos os aspectos dessa realidade.»

«Os pobres não serão os mais felizes?»

«Não serão mais puros os miseráveis e os doentes?»

«Mais lúcidos e conscientes os oprimidos?»

«E essa felicidade que se entretece com a pobreza, essa pureza que se mistura com a miséria e com a doença, essa lucidez e essa consciência que é martelada no fogo da opressão, não são essas afinal as almejadas chaves do reino dos céus que é o futuro profundamente ansiado por todas as nossas idênticas almas peregrinas?»

Ah!... Nós vamos simplesmente olhar para o que se passa neste planeta!...

Você perceberá porque é que alguns de nós não se sentem humanos.

E porque é que acreditamos que vocês, os extraterrestres, mesmo que nos conhecessem, mesmo que o espaço e o tempo se pudessem dobrar de um tal modo que as mãos ou os membros dos vossos corpos inimagináveis nos pudessem tocar, ainda assim não desejariam conhecer-nos mais, e muito menos contactar-nos.