ASROC


ASROC - o sistema anti-submarinos.
 
Serve para matar.
 
PAK 40 - a arma anti-tanques.
 
Serve para matar.
 
O Lança-Granadas.
 
Serve para matar.
 
Fusil Mauser - a espingarda semi-automática.
 
Serve para matar.
 
Panzerschreck - o carro com bazuca.
 
Serve para matar.
 
AT-3 Sagger - o míssil teleguiado.
 
Serve para matar.
 
As minas Anti-Carro
 
Servem para matar.
 
As minas de Gás Cloro.
 
Servem para matar.
 
O Canhão de Gauss.
 
Serve para matar.
 
A Carabina M4.
 
Serve para matar.
 
A Catapulta.
 
Serve para matar.
 
A Flecha.
 
Serve para matar.
 
O Fusil.
 
Serve para matar.
 
A Granada.
 
Serve para matar.
 
O Submarino.
 
Serve para matar.
 
Overcraft - o carro que anda na terra e na água.
 
Serve para matar.
 
O Caça.
 
Serve para matar.
 
O Drone.
 
Serve para matar.
 
O Punhal.
 
Serve para matar.
 
O Torpedo.
 
Serve para matar.
 
O Morteiro.
 
Serve para matar.
 
A Bomba Atómica.
 
Serve para matar.
 
O Homem.
 
Serve para matar.
 
 
 
Asroc
 

Tabun

 
GA
 
Etílico dimethylphosphoramidocyanidato
 
Dimethylaminoethoxy-cyanophosphine óxido
 
Dimethylamidoethoxyphosphoryl cianeto
 
Etílico dimethylaminocyanophosphonate
 
Éster etílico do ácido dimethylphosphoroamidocyanidic
 
Etílico phosphorodimethylamidocyanidate
 
Cyanodimethylaminoethoxyphosphine óxido
 
Dimethylaminoethodycyanophosphine óxido
 
EA1205
 
 
Tabun é um veneno, e foi descoberto por acaso.

Serve para matar.

Fabricado em larga escala pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, serviu para matar na Guerra do Golfo, no final do Século XX.

Como o Sarin, ou GB, que deixa as pupilas tão pequenas como pontas de alfinetes, um composto organofosforado quinhentas vezes mais tóxico que o cianeto.

No massacre de Halabja, no Iraque, em 1988, a cidade curda foi bombardeada com Sarin pelo regime de Saddam Husseim.

Homens, velhos, mulheres, crianças, mais de dez mil foram atingidos e morreram imediatamente ou nos anos seguintes.

Como o Gás Mostarda, que causa cegueira e forma bolhas na pele e que foi usado no final da Primeira Guerra Mundial, pelos alemães, primeiro, e pelos aliados, depois.

A morte é horrível, tremenda.

Foi usado pelo Reino Unido contra o Exército Vermelho, por França e Espanha contra Marrocos, pela Itália contra a Líbia, pela União Soviética e pelo Japão, contra a China, pelo Egipto, contra o Yémen, pelo Iraque, contra os curdos, e está a ser usado hoje, na Síria, pelo Daesh.

Como o Agente Laranja, que servia para desfolhar as árvores e pôr à vista os soldados vietnamitas e que destruiu e mutilou, durante décadas, o povo vietnamita.

Porque não basta ter de morrer.

Não basta que a vida nos fustigue com mil amarguras, doenças e desencontros.

Com requintes de ferocidade nós os humanos encarregamo-nos de criar ainda mais terríveis os novos e sempre actualizados instrumentos da morte e da tortura.

Mais terríveis que as feras, que o caos ou que os cataclismos, mais terríveis ainda que o absurdo ou que o infinito, assim nos destruímos e matamos, porque os edifícios do inferno precisam de ser continuamente ampliados e recriados, modernizados com a vanguarda das novas tecnologias, com os resultados de ponta de lança da investigação científica e da indústria, não vá o inferno extinguir-se, não vão as chamas do sofrimento infinito ausentar-se desta terra, quando afinal tínhamos tudo, mas tudo, no suave planeta azul, que nos fizesse felizes.

KALASHNIKOV II

 
 
 
Foi inventada logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, por Mikhail Kalashnikov.

Estima-se que tenham sido produzidos, até hoje, cerca de noventa milhões de exemplares desta arma que chega a disparar seiscentos tiros por minuto e que é relativamente leve e de fácil manutenção.

Foi usada nos ataques terroristas de Paris em Novembro de 2015 e no ataque à redacção do Charlie Hebdo.
 
Mikhail confessou em 2002 numa entrevista ao The Guardian que gostaria de ter inventado um cortador de relva.


KALASHNIKOV I

 
 
Kalashnikov
2-4D
Ácido Diclorofenóxidoacético
Agente Laranja
ASROC
Gás Mostarda
GA GB VX
H HT HD
PAK 40
Lança-Granadas
Fusil Mauser
Panzerschreck
AT-3 Sagger
Mísseis Anti-Tanque
Minas Anti-Carro
Minas de Gás Cloro
Canhão de Gauss
Carabina M4
Catapulta
Chicote
Flecha
Fusil
Granada
Submarino
Overcraft
Míssil
Bacamarte
Morteiro
Nunchaku
Pistolet-Pulemet
Porta-Aviões
Caça
Drone
Punhal
Rifle
Torpedo
Waguizashi
Zarabatana
Morteiro
Morte
Desert Eagle
Bomba Nuclear
Bomba Atómica
Hiroshima
Nagazaki 


Ashraf Fayadh






Meu querido leitor extraterrestre, trago-o de novo para a Arábia Saudita, a terra seca dos príncipes do petróleo e das mulheres amordaçadas, a coroa da abundância material, dos palácios em quadriplicado e do alto luxo, cúpula de um império de tolos que é um planeta tão apetecível para si - o planeta Terra! - para si o extra-terreno que não compreende o valor do mais famoso de todos os nossos bens actuais, isto é - do dinheiro.

Não leve a mal a amargura deste humor. Há pelo menos uma razão pela qual até mesmo você gostaria de visitar este império dos tolos, mais não fosse como turista.

Por causa de certas palavras, por causa de uma coisa que se pode chamar «poesia»; por causa, acima de tudo, de uma coisa que tem várias faces, várias arestas, diferentes modos ou expressões (pode surgir como filosofia, como crítica, como arte), mas que se resume numa só actividade: pensar; talvez por causa disto você se digne a contactar-nos, almejado e formoso extraterrestre.

As palavras que nos fazem pensar incomodam, cortam o ar, passam de mão em mão e penetram nos estômagos, nos ossos e na bílis.

As palavras não deixam pedra sobre pedra do status quo, das manhas e tretas que nos querem vender, com que nos querem comprar as almas e surripiar as forças, o tempo de vida.

Elas arrasam com os preconceitos, com as ideias feitas, com as identidadezinhas que são úteis à reprodução social e à conservação de sociedades sempre iguais a si mesmas, sempre com os mesmos fortes e os mesmos fracos, sempre com o mesmo bem e o mesmo mal.

As palavras despem, dóiem, arrepiam e transformam, pela raiz, a alma dos homens.

Por isso é que os tiranos abominam os pensadores, os poetas e os artistas. Só querem as palavras sob o modelo da propaganda, ainda que isso já não sejam mais as palavras verdadeiras, sentidas, cuspidas, alegres ou doridas, não sejam mais palavras de corpo, mas as armas químicas, os venenos tóxicos que infectam a alma e o desejo dos súbditos, analgésicos camuflados de palavras, drogas incipientes que vão paralisando as emoções e o espírito, esclerosando, cartilagem por cartilagem, osso por osso, linha por linha, ideia por ideia, todas as articulações do pensamento.

As palavras são gestos, corpos, toques, danças, rostos, afectos que te abalam como carícias ou pontapés.

Qualquer totalitarismo vive de queimar os livros e de fazer arder em fogueiras os livres pensadores. Qualquer tirano depende de subjugar as almas pelo silêncio e pelo medo e pela renúncia às palavras.

As palavras verdadeiras são afectos vivos e pensamentos vivos que se trocam e que nos podem mudar, mudar de um modo radical, absoluto, e fazer atravessar até a própria morte.

Não é mentira. De tal ordem é o seu poder que o rei saudita não se coibiu de condenar à morte por decapitação o jovem poeta palestiniano Ashraf Fayadh, julgando-o sem sequer lhe conceder um advogado, à revelia das leis do próprio país.

De que é acusado? De «ateísmo», de «pensamentos destrutivos»? Se estivesse calado - não seria acusado de nada.
 
OPORTUNIDADES IGUAIS 

Um filho e uma filha.
 A mãe prefere o filho à filha.
 O filho permanecerá junto da sua mãe através das vicissitudes da vida.
A filha produzirá um outro filho para ficar do seu lado. (1)

 
O que é insuportável, neste poema? A impávida ironia do título? O insalubridade dos factos? A imobilidade da reprodução social? O absurdo de uma lógica pouco salvífica? Ou chegar a dizer, como num outro poema, que o petróleo vale mais que o sangue dos povos? 

Depois de quarenta e sete execuções no início de 2016, entre as quais a do chefe religioso Nimr al-Nimr, a diplomacia económica e política continua a rastejar diante do ouro negro.

Meu querido leitor extraterrestre, a quem apenas num aparente contra-senso me dirijo (porque apesar de expor aqui com a máxima clareza possível as razões porque não somos, de facto, contactados por extraterrestres, mesmo assim não deixo de sonhar com as almas de um mundo distinto e exclusivamente fundado na bondade e no escrúpulo).

Você sabe que tenho citado essencialmente Kant, Monthy Python, Karl Marx e Charles Chaplin, não é verdade?

Pois bem. Agora vou citar Proust quando sublinha que «nas nossas condições de vida neste mundo não há nenhuma razão para que nos julguemos obrigados a fazer o bem, a ser delicados, mesmo a ser corteses, nem para que o artista ateu se julgue obrigado a recomeçar vinte vezes uma obra quando a admiração que ela virá a provocar pouca importância terá para o seu corpo comido pelos vermes».

Proust na verdade quer chegar à fina conclusão de que morrer sem ficar morto para sempre não é uma coisa assim tão improvável, como se a morte não tivesse o carácter definitivo que os materialistas em geral lhe reconhecem.

Porém, o que Proust acaba por frisar, e de um modo extraordinário, é que «todas estas obrigações, que não são sancionadas na vida presente, parecem pertencer a um mundo distinto, fundado na bondade, no escrúpulo, no sacrifício, num mundo completamente diverso deste, e do qual saímos para nascer nesta terra, porventura antes de para lá voltarmos para tornarmos a viver sob o império dessas leis desconhecidas a que obedecemos porque trazíamos em nós o seu ensinamento, sem sabermos quem nele as havia traçado: essas leis de que nos aproxima todo o trabalho profundo da inteligência e que apenas são invisíveis - se o são! - para os tolos.»

O que nos faz reflectir sobre o triste facto de como o planeta Terra sempre esteve e tem estado cada vez mais sob o império dos tolos.



(1) http://arablit.org/2016/01/11/newly-translated-poems-to-read-for-ashraf-fayadh-on-january-14/