Os pássaros e as raparigas na Índia



Apesar de todos os esforços que se fazem para modificar os comportamentos relativamente às mulheres, é sabido que o número de crimes sexuais continua a aumentar na Índia.
 
Este é um dos países mais populosos do mundo e uma das grandes potências económicas da Ásia.

Apesar do regime de castas, a Índia é considerada uma democracia parlamentar - o que é um perfeito absurdo.

Não pode haver democracia quando cento e sessenta e seis milhões de pessoas num país não têm voz.
 
Rica em biodiversidade, em pessoas, na cultura e em diversidade linguística e religiosa, a Índia viu nascer o hinduísmo, o budismo, o jainismo e o sikhismo.
 
Contudo, apesar do endurecimento das leis, os conselhos de aldeãos continuam a aplicar condenações que implicam a violação em grupo das raparigas, e muitas vezes a sua morte.
 
Foi o que aconteceu em 2014 a uma mulher que manteve uma relação proibida com um homem de outra comunidade durante cinco anos, tendo sido obrigada pelo conselho de aldeões a pagar uma soma equivalente a trezentos euros pelo crime.
 
«A família não pode pagar. Por isso, desfrutem da rapariga e divirtam-se.» Foi a sentença do conselho.
 
Por outro lado, é sabido que as raparigas que pertencem à casta dos intocáveis estão sujeitas às maiores brutalidades.
 
Em 2014, a violação em grupo e enforcamento de duas adolescentes, de catorze e dezasseis anos, em Badaun, no estado de Uttar Pradesh, moveu a Amnistia Internacional.
 
O pai de uma das adolescentes contou que procurou a ajuda da polícia quando deu pela ausência demorada da filha e da prima, mas o polícia de serviço naquela noite recusou-se a registar a queixa e a investigar o desaparecimento.
 
Pelo contrário, esbofeteou-o, depois de o questionar sobre a casta a que pertencia.

As chamadas castas inferiores são grupos de pessoas também conhecidas como «intocáveis» ou «sem casta» na Índia, formados por uma população mista, com uma variedade de idiomas e religiões, e representam cerca de dezasseis por cento da população total do país, ou seja, cerca de cento e sessenta e seis milhões de pessoas.
 
Desculpe-me, caro leitor, mas tenho de interromper esta descrição porque estou com vontade de vomitar.
 
Agarramos o estômago mas o peso da nossa impotência é como uma malha obtusa que nos asfixia e enjoa - que nos arrasta até ao limite náusea.
 
Porque foi também na Índia no ano 2015 que a corte de Nova Deli decidiu que os pássaros têm direito de viver com dignidade e fora de gaiolas, voando livremente.
 
«Tenho claro em minha mente que todos os pássaros têm os direitos fundamentais de voar nos céus e que os seres humanos não têm o direito de mantê-los presos em gaiolas para satisfazer os seus propósitos egoístas ou o que quer que seja.» - afirmou o juiz.
 
Na Índia, como no mundo, vemos florescer e apodrecer a humanidade num mesmo espaço, num mesmo tempo, num mesmo instante.
 
Não sabemos ainda porque é que a palavra «paradoxo» se tornou necessária - a ponto de existir.
 
Bastava dizer - «ser-humano».