Ocidentais que desejam a Jihad



Muhammad Oda Dakhlalla e Jaelyn Delshaun Young, um jovem de vinte e dois anos, formado em psicologia, e uma jovem de dezanove, prestes a ingressar na faculdade, ambos cidadãos americanos, foram presos no aeroporto de Columbus, no Mississippi, sob a acusação de pretenderem alegadamente juntar-se à Guerra Santa do Estado Islâmico.
 
Dakhlalla, pelas declarações que fez a um falso agente intermediário do ISIS e que na verdade pertencia à CIA, mostrou-se disponível para participar no movimento terrorista com os seus conhecimentos em media e computadores e, além disso, mostrou-se pronto para «lutar». O discurso de Young, um pouco diferente, focava-se em ajudar os doentes na frente de batalha e em destruir o conjunto de «mentiras» que circulam no ocidente sobre o ISIS. Dakhlalla pertence a uma família muçulmana, que se mostrou chocada com as intenções do filho, enquanto Young se converteu recentemente, porventura durante o curto namoro que precedeu o casamento de ambos, antes da partida.
 
É conhecida a força de atracção do Estado Islâmico sobre certos grupos de jovens ocidentais, tanto rapazes, como raparigas, e não apenas religiosos e devotos. Como sabemos, centenas foram já recrutados e engrossam as fileiras dos combatentes pelo Estado Islâmico.
 
Se alguém que vive numa sociedade democrática e pacífica, onde estão instituídos estados de direito e o respeito pelos direitos humanos e pela igualdade de oportunidades entre os sexos, se alguém que é educado no contexto de tais ideais, mesmo que imperfeitos na vida prática, se rende a uma guerra que prima pela violência e pelo terror radical, pela escravização das raparigas, pela morte dos homossexuais, pela destruição da arte e pela aplicação brutal da Sharia, uma lei religiosa de perfil medieval - é caso para perguntar: qual a sua motivação?
 
Que procuram estes rapazes e, de um modo ainda mais desconcertante, estas raparigas? Onde foi que fermentou um tal ódio à civilização que os viu nascer? De onde vem a violência ou o desespero que lhes motiva uma tal fuga e uma tal vingança?
 
Porventura alguns de nós acreditaram que havia uma coisa a que se poderia chamar «progresso». Avançar para a implementação global de um estado de direito em que os direitos humanos, valorizados, amados e defendidos, permitissem construir um mundo cada vez aberto e mais justo para todos os que nele habitam - um mundo onde a paz e o pão fossem casa para todos, e não apenas para alguns, um mundo em que a celebração da existência de cada um, na sua singularidade, fosse a atitude natural e criadora de toda a riqueza comum - esta seria a evolução natural e desejada a que gostaríamos de chamar «progresso».
 
O que os factos demonstram, porém, é que a abolição da barbárie é como a terra conquistada ao mar na Holanda. Talvez não seja, como gostaríamos de acreditar, uma coisa «natural», mas é uma conquista frágil e dolorosa que na realidade se fez com mortes, sofrimento, sangue e muito desespero. Algo que se pode desagregar a um ritmo alucinante sob uma nova ordem mundial, do mesmo modo que cai um baralho de cartas ou se desfaz um castelo de areia à beira-mar, e algo por que teremos de lutar com maior veemência ainda, e porventura com maior sacrifício e paixão.
 
Há mentes na terra mais insondáveis que em qualquer planeta distante, a muitos milhões de anos luz.