Sahar Gul (2011)


Sahar Gul foi vendida como noiva aos treze anos de idade, na província de Baghlan, no Afeganistão.
 
Depois da morte do pai, aos nove anos de idade, Sahar Gul trabalhou na casa do seu irmão Mohamed, cuidando do gado, colhendo a fruta e fazendo tijolos de esterco para combustível.
 
Era analfabeta, pois não tinha oportunidade de ir à escola.
 
Sahar Gul resistiu a consumar o casamento durante semanas.
 
O marido, a cunhada, o sogro e a sogra batiam-lhe com canos de ferro quente e deixavam-na passar fome.
 
Sahar Gul conseguiu fugir e pedir ajuda à polícia, mas foi devolvida à casa do marido, com a promessa de que este não a torturaria mais.
 
Porque se recusou a prostituir e a dar o dinheiro à família, Sahar Gul continuou a ser torturada.
 
Preocupado porque não conseguia contactá-la, Mohamed veio a descobri-la num curral e num tal estado de fraqueza que teve de ser dali tirada num carrinho de mão.
 
O marido e a família foram condenados a dez anos de prisão, mas passado um ano foram colocados de novo em liberdade.
 
Eles foram capazes de arrancar  as unhas e o cabelo de uma menina e de torturar uma criança de um modo que somos incapazes de reproduzir, tal é a angústia e horror que estes factos nos causam, mas estão em liberdade.
 
E nós perguntamos - e na aldeia onde viviam?
 
Ninguém ouviu os gritos?
 
Ninguém teve compaixão das lágrimas?
 
Em roda todos viraram a cara?
 
Todos se calaram?
 
Para ninguém foi insuportável o sofrimento de uma menina indefesa e inocente, ao ponto de agir, de fazer qualquer coisa?

Enquanto grassa a fogo solto a crueldade e os seres humanos tratam as meninas e as mulheres como se fossem coisas e objectos que se podem vender, usar, exibir ou comprar, que humanidade seremos?