Todos os homens têm um nome



Meu caro extraterrestre, não se desiluda. O mundo é mais do que as notícias que temos dele. Se está um dia de sol, as pernas doridas dóiem-nos de tanto andar à beira do mar. Pergunto-me: «Que saberá você de pernas? Que saberá você de sol?» Se está um dia de sol, o nosso corpo irradia esse suave calor, esse doce cansaço. E essa coisa pequena, essa sensação ínfima, tão suave, como não perdê-la? Se algum dia um escritor souber parar o fluxo infinito que o atravessa, deter absolutamente o tempo, vencer o esquecimento e segurar ao alto toda a alegria de existir e que se esvai no limbo, nesse dia celebraremos. Porque, se estiver sol, os nossos dias cintilam absurdamente. Os aviões voam muito alto e talvez seja possível ver um deles, minúsculo, no céu muito límpido. Ínfimos, ínfimos pontos, quase invisíveis, são os caracóis que trepam por uma parede. Temos por hábito cortar o mato na margem das linhas férreas. E é comum, à beira das praias, haver pegadas no chão de cimento ou asfalto. Pés nus, porque se vêem as marcas dos dedos no chão. Alguém que saiu da água e não se importou de seguir descalço, indiferente à urina dos cães.