A meritocracia


Se por um lado no Burundi, um dos dez países mais pobres do mundo, a elite tutsi vampiriza a maioria hutu, deixando o país numa miséria exangue; no outro lado do globo pavoneia-se um candidato republicano, o famoso Donald Trump, que compra um avião a jacto de cem milhões de dólares com uma torneira banhada a ouro de vinte e quatro quilates.

Enquanto nos Estados Unidos o cantor Justin Bieber gasta seiscentos e cinquenta e oito euros em cada corte de cabelo que faz, por não saber onde gastar tanto dinheiro que ganha, do outro lado do oceano acontece que mais de metade da população da Serra Leoa (um país riquíssimo em ouro e diamantes) vive sem água potável e com menos de um dólar por dia.

Tudo acontece ao mesmo tempo, no mesmo mundo!

No Niger, a população esfomeada e sem escolaridade continua a multiplicar-se desenfreadamente, apesar da fome e da terra escassa, devorada pelo grande deserto. Mas em Inglaterra a Princesa Kate compra um carrinho de mil libras para o seu bebé, afinal apenas mais um dos múltiplos e luxuosos acessórios, entre roupas, jóias, relógios, casas, carros e propriedades, com que a magnânima e digníssima família real se adorna.

Veja, este é o nosso mundo! 

Trata-se para alguns do resultado um pouco descontrolado de uma lógica muito defensável e a que chamam meritocracia.

Por isso, a quem me hei-de dirigir, mesmo repudiado, senão a si, meu caro extraterrestre?

Se houver um frango para vinte seres humanos mais vale que um deles o devore todo inteiro e se alimente depois da carne dos restantes dezanove cadáveres, não concorda?