A mais nua e a mais patética das verdades


Isto não é um pedido de benevolência (ou captatio benevolentia, de acordo com os velhos mestres), mas a mais nua e a mais patética das verdades.

Existe nestas frases que me escrevem (e este é um facto muito superior à impressão incerta que ambos temos de que eu as escreva), uma força obscura que me varre, ora para o lado do insecto, ora para o lado da matéria negra que compõe o fundo das galáxias e dos universos, ora para o lado opaco e intraduzível do animal.

Há momentos terríveis em que não sei realmente se estou do lado da aranha ligeiríssima de oito patas dançarinas e antenas perspicazes; do lado da formiga trabalhadora que tão bem contribui para a coesão social da sua comunidade original; do lado da mulher adúltera coberta de mel dentro do buraco ao sol, aguardando com pânico cego a devoração pública; ou do lado do brilho energético de uma estrela distante, como uma tranquila partícula contemplativa e liberta de qualquer afecto.

As referências do meu universo habitualmente escalonado pelo padrão da minha medida singular esboroam-se como um castelinho de areia nas franjas de uma praia atlântica batida pelo mar numa tempestade de Inverno, e o meu chão foge-me dos pés como se fosse um pântano de fumo ou de feitiços, menos seguro ainda do que se caminhasse em Plutão.

Meu querido leitor, não queira estar na minha posição, nem queira de todo ocupar este miserável e turbulento lugar!...

Sinto com uma mágoa imensa que não posso garantir-lhe nada, que não posso oferecer-lhe nenhuma espécie de coerência.

Não é de todo o melhor que posso advogar em meu favor, sei-o sem sombra de qualquer dúvida. 

E é até possível que, no decurso destas frases, o fiel e excepcional leitor que sobrevive a tanto caos e a tanta tortura se aperceba de súbito, e não sem horror, que está a ser contactado por um extraterrestre.

As voltas e contra-voltas e as torções a que este pensamento me obriga fazem com que a negra e pavorosa escarpa da loucura me espreite com um rosto ao mesmo tempo imperceptível, subtil e terrível, nas franjas de cada parágrafo, e por isso não é de todo inconcebível que no fim deste blogue eu não seja mais aquele mesmo escritor que lhe deu início, caro e eventual leitor sobrevivente.

Mesmo assim, e apesar de todos os perigos, continuo disposto a avançar ferreamente neste caminho não traçado e que me faz oscilar e por vezes até dançar entre a razão, o terror, o desejo e o delírio.

E você?