Caríssimo e cada vez mais estimado leitor, já que você decidiu acompanhar-me (ainda que de um modo provisório), façamos um breve resumo.
Viajámos do nosso corpo para o planeta, do planeta para o espaço, do espaço para o sistema solar, para as estrelas, para as galáxias e para o universo.
Fomos das unidades para as dezenas, para as centenas, para os milhares, para os milhões, para os triliões, para os anos-luz e para os megaparsecs.
Demos tais saltos no incomensurável que ficámos reduzidos a uma insignificância indescritível.
Imaginámos uma vida extraterrestre que habitasse, não noutro planeta ou noutra galáxia, mas nas sinapses involuntárias dos neurónios do nosso cérebro, nas franjas do inaudível, do invisível e do insensível.
Face a um tal infinito, o nosso coração apertou-se.
«Que diferença faz uma vida?»
«Que diferença faz a virtude?»
Quanto ao seu caso não posso pronunciar-me de modo algum, mas confesso-lhe que a mim pessoalmente tanto me faz que o universo se divida em percentagens inimagináveis de energia escura e matéria negra e só depois numa ínfima percentagem de «matéria normal» - aparentemente, a nossa.
Tanto me faz que o mundo se sustente em cima de quatro elefantes às costas de uma tartaruga-do-mar, ou não.
Perguntarei sempre:
«Os elefantes de onde vieram?»
«A tartaruga para onde vai?»
«A matéria negra de onde veio?»
«A energia escura para onde vai?»
«Onde acaba o mar onde nada a tartaruga?»
«E além do universo o que há?»
O mais terrível é a insignificância insuportável a que parece reduzir-nos o espaço infinito, o mais intolerável é a indiferença odiosa em que se anula a alegria e a dor, a guerra e a paz, o crime e a reparação, a justiça e a desigualdade, a vida e a morte, uma criança, uma borboleta, ou um cão.
Não quero cansá-lo com raciocínios que o deixariam exausto, estimado leitor, se é que ainda sobrevive diante das letras, se é que a paciência e os olhos ainda lhe assistem.
Não vou descrever-lhe com minúcia o brilhante pensamento de dois homens que transformaram o espaço e o tempo, um, numa simples forma da intuição (humana), e outro num dos aspectos que uma substância infinita pudesse ter - como se o espaço e o tempo fossem uma das faces de um poliedro infinito.
Você consegue imaginar um poliedro infinito?
É claro que sim!...
É muito mais fácil que um megaparsec!...
Visto de longe é uma esfera, visto de perto é um fractal.
Visto de longe é uma esfera, visto de perto é um fractal.
Mas eu não quero deixá-lo de rastos, notável leitor.
Já que sobreviveu até aqui, você é neste momento um elemento absolutamente precioso para todos nós.
Já que sobreviveu até aqui, você é neste momento um elemento absolutamente precioso para todos nós.
Semelhante empresa seria tarefa para um livro inteiro e, além disso e o que é ainda mais grave, ficaríamos sem explicação para o silêncio dos extraterrestres.
O que importa reter de tudo isto é que facilmente podemos arrasar com o espaço e com o tempo, ou, pelo menos, comprometê-los de tal forma que temos de começar a pensar tudo do início.
Peguemos no espaço, peguemos no tempo.
«OPs METO ÇAPSE!...»
E principalmente que não nos levem os fígados, nem os dedos, nem as pestanas, nem nos espoliem das nossas almas.
«Aqui e agora!...»
«Aqui e agora!...»
«Aqui e agora!...»
É o que gritam na nova paisagem os pássaros loucos de um velho apocalipse.
Indispensável leitor, prepare-se.
A nossa perspectiva vai mudar.